Império: escola de estadistas
Segundo Rui Barbosa, "o parlamento no Império era uma escola de estadistas, na república uma praça de negócios". Como muito bem lembra o escritor Heitor Lyra, no livro "História de Dom Pedro II", p. 37: "Nunca se viu antes, nem se veria depois, tal número de estadistas notáveis, talentos pelo saber, pela argúcia, pela integridade de caráter, pelo desinteresse pessoal, pelo amor à pátria, pela rigidez dos costumes, pela austeridade de suas vidas privadas". É desta cepa, de grandes homens públicos, que teve origem Joaquim Nabuco. Relembre o artigo publicado pelo Blog Monarquia Já no centenário de seu falecimento:
Joaquim Nabuco: Centenário de Morte
"Como vê, sou um homem de uma só idéia, mas não me envergonho dessa estreiteza mental porque essa idéia é o centro e a circunferência do progresso brasileiro."
Joaquim Nabuco hoje é nome de fundação, de instituição de ensino, de ruas e até de cidade, mas pouca gente sabe quem foi este homem. É no Centenário de sua morte que devemos trazer a biografia de Joaquim Nabuco, e nele nos inspirarmos. Trazer a discussão o patriotismo e as ações deste grande monarquista.
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo nasceu no Recife, Pernambuco, no dia 19 de agosto de 1849, era membro de uma importante família do Império, tendo antepassados que pairaram na vida pública do Brasil. Era filho de José Tomás Nabuco de Araújo Filho, jurista, Senador do Império e Presidente da Província de São Paulo, e de Ana Benigna de Sá Barreto Nabuco de Araújo, sendo de tal forma, neto de José Tomás Nabuco de Araújo, Deputado Geral, Ministro de Justiça e Senador do Império. Era sobrinho, por parte materna, do Marquês do Recife, Francisco Paes Barreto. Descendência, pois, de grandes famílias do nordeste brasileiro, os Nabuco de Araújo, da Bahia, que desde o Primeiro Reinado contribuíam com Senadores ao Império, mas também descendência dos Paes Barreto, que tinham grande influência e poderio desde o século XVI em Pernambuco.
Nabuco teve formação sólida. Em 1857 mudou-se para o Rio de Janeiro, onde estudou humanidades no prestigiado Colégio Pedro II, bacharelando-se em Letras. Aos 15 anos publicou Ode à Política, obra com que obteve elogios de Machado de Assis, aos 18 anos apresentou o drama O destino, que teve como espectador Dom Pedro II. Em São Paulo, no ano de 1865, estudou os três primeiros anos de Direito, formando-se, mais tarde, em 1870, no Recife. De retorno ao Rio, publicou seu primeiro livro, Camões e Lusíadas. Publicou anteriormente entre 1864 e 1869, três obras, O gigante da Polônia, O povo e o trono e Le droit du meurtre.
Em 1872, Joaquim Nabuco herdou da madrinha, dona Ana Rosa Falcão de Carvalho, o Engenho Serraria, vendendo-o, foi à Europa, numa viagem de “instrução”, que aproveitou para fazer contatos com intelectuais e políticos. Indo a Londres, apaixonou-se pelo povo inglês, pela geografia daquela terra, e mais ainda pela monarquia parlamentar daquele país. Em 1876 foi enviado a Washington, como adido de primeira classe, incorporando-se ao Serviço Diplomático do Brasil e lá permaneceu de 1876 a 1878.
Joaquim Nabuco, por veia familiar e por personalidade própria, sempre teve gosto pela política, esta atração encaminhou-o para a eleição, em 1878, que o fez Deputado por sua província, quando então passou a residir no Rio de Janeiro. A entrada de Joaquim Nabuco na política foi o marco inicial de sua luta pela Abolição, luta esta que tinha o apoio da Família Imperial, sobretudo de Dona Isabel. Em 1880, Nabuco funda em sua casa, a Sociedade Brasileira Contra a Escravidão. Em 1882, muda-se para Londres, pois havia perdido a reeleição. Na capital inglesa vive do exercício da advocacia e do jornalismo, sendo representante do Jornal do Commercio, do Rio de Janeiro. Em Londres, no ano de 1884, escreveu O abolicionismo, tido como uma de suas grandes obras.
De volta ao Brasil em 1884, Nabuco fez campanha para seu retorno à Câmara dos Deputados, defendendo mais uma vez o abolicionismo. Sua campanha apaixonada e seus discursos eloqüentes, deram origem ao livro A campanha abolicionista, publicado em 1885, no mesmo ano saiu vitorioso nas eleições, mas foi expurgado pela Casa para a qual havia sido eleito, fato que causou comoção geral e indignação aos pernambucanos. Erminio Coutinho e Francisco Cavalcanti renunciaram aos seus mandatos de Deputado, colocando Nabuco novamente na Câmara. Lá defendeu a lei dos sexagenários e o federalismo. Em 1886 perdeu as eleições e passou a dedicar-se ao jornalismo, escrevendo e publicando compilações: O erro do Imperador, O Eclipse do Abolicionismo e Eleições liberais e eleições conservadoras, todas publicadas em 1886.
Joaquim Nabuco, em 1887, volta à Câmara novamente, elegendo-se historicamente por Pernambuco. No ano seguinte vai a Roma, encontrar o Santo Padre Leão XIII, ocasião em que relatou a luta pela abolição da escravatura no Brasil, as ações dos abolicionistas, as ações de Dona Isabel. Atribui-se a Nabuco a influência possivelmente exercida sobre o Sumo Pontífice para que elaborasse a encíclica In Plurimis, dirigida aos Bispos do Brasil, pedindo-lhes que desse apoio ao Imperador, à sua filha, Dona Isabel, à Família Imperial, na luta contra a escravidão, contra as oligarquias e na abolição da escravidão de forma definitiva.
Em 1888 é composto o Gabinete de João Alfredo, com vistas à aprovação da lei que colocaria fim a escravidão no Brasil. A este Gabinete e aos projetos abolicionistas de João Alfredo, Nabuco deu total apoio, chegando ao auge quando da sanção da Princesa Dona Isabel à Lei Áurea.
Disse Nabuco:
“No dia em que a Princesa Imperial se decidiu ao seu grande golpe de humanidade, sabia tudo o que arriscava. A raça que ia libertar não tinha para lhe dar senão o seu sangue, e ela não o queria nunca para cimentar o trono de seu filho. A classe proprietária ameaçava passar-se toda para a República, seu pai parecia estar moribundo em Milão, era provável a mudança de reino durante a crise , e ela não hesitou: uma voz interior disse-lhe que um grande dever tem que ser cumprido, ou um grande sacrifício que ser aceito. Se a Monarquia pudesse sobreviver à abolição, esta seria o apanágio. Se sucumbisse, seria o seu testamento...”
Em 1888, Joaquim Nabuco fez um de seus maiores discursos na Câmara dos Deputados. Saiu em defesa de João Alfredo, de Dona Isabel e da Abolição, contra os escravagistas. No ano seguinte, casou-se com dona Evelina Torres de Soares Ribeiro, filha do Barão do Inhoã e neta do Barão de Itambi, de família influente de fazendeiros da região de Maricá, da Província do Rio de Janeiro. Tiveram 5 filhos: Mauricio, Joaquim, Carolina, Mariana e José Tomás.
Ainda no fatídico ano de 1889, Nabuco foi eleito para mais uma legislatura, quando manifestou o medo da queda da Monarquia no Brasil. Em 15 de novembro daquele ano, Nabuco amargou a data, mas com firmeza em suas convicções, estas arraigadas em seu íntimo e desde tão cedo cultivadas, que na data do golpe manifestou seu posicionamento a favor da Monarquia.
Em 1890, antevendo sua convocação para a Constituinte de 1891, publica a compilação Porque continuo a ser monarchista, carta ao Diário do Commércio, a qual reproduzimos no final deste texto e que agora grifamos uma parte:
“A história recordará como uma das mais originais essa monarquia brasileira que não era militar, nem clerical, nem aristocrática, e por isso derribada pelo exército, depois da revolta do escravismo, entre a indiferença da igreja. Se o Brasil fosse uma das grandes nações do mundo, seria uma grande casa reinante essa curta dinastia que deu a metade do seu trono para fazer a Independência e a outra fazer a Abolição.
Estou pronto a dizer-me republicano, mesmo com a certeza da restauração diante de mim, se se modificar em meu espírito a convicção de que a república no Brasil há de ser fatalmente uma forma inferior de despotismo, desde que não pode ser uma forma superior de anarquia; não basta, porem, a certeza que tem todos de que a monarquia não voltará mais, para eu deixar de ser monarquista.
Monarquista sem esperança de monarquia, para que serve?
Serve para não ser republicano sem esperança de liberdade. ”
Em 1891, Rodolfo Epifâneo de Souza Dantas fundou o Jornal do Brasil, contando com a colaboração de grandes nomes, como José Veríssimo, José Maria da Silva Paranhos Jr., Aristides Spínola e Joaquim Nabuco. O jornal era reduto monarquista, defendia a volta do Regime Imperial. No mesmo ano, Joaquim Nabuco abriu escritório de advocacia em sociedade com o Conselheiro João Alfredo, antigo ministro do gabinete pró-abolição, que Nabuco havia defendido em 1889.
O dever dos monarchistas, escrito por Joaquim Nabuco em 1895, e que oportunamente iremos reproduzir neste espaço, serviu como resposta ao almirante Jaceguay, que havia escrito O dever do momento, que defendia a república. Este monarquismo de Nabuco foi reforçado em 1896, com a publicação no Jornal do Commercio, do Manifesto do Partido Monarquista, que haviam recém fundado, Nabuco, João Alfredo, Lafaiete Pereira, Afonso Celso, Visconde de Ouro Preto e outros de renome.
Sem aceitar os cargos que lhe ofereciam na república, Joaquim Nabuco entre os anos 1893 a 1899, dedicou-se a escrever artigos para revistas e jornais, destacando-se sobremaneira. Em 1895 publica Bamaceda, sobre a guerra cível chilena e A intervenção estrangeira na Revolta de 1893. Em 1896 publica Um estadista do Império, nesta obra avalia a vida do Senador Nabuco de Araújo, seu antepassado.
Joaquim Nabuco tornou-se de fato “Imortal” em 1896, quando junto de grandes nomes da literatura, fundou a Academia Brasileira de Letras, sendo Nabuco, o secretário perpétuo desta honrosa instituição. Fundador da cadeira de número 27. No mesmo ano foi convidado aos quadros do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro.
Ufano, mesmo na república, no ano de 1899, Joaquim Nabuco aceitou defender seu país frente à Guiana Inglesa, numa questão internacional que teve como árbitro o Rei Victor Emmanuel da Itália. Em 1900, dizendo-se apenas plenipotenciário em missão especial, por causa da morte de Sousa Correa em Londres, Nabuco aceitou de fato o seu primeiro cargo na república, mais tarde tornou-se chefe da legação do Brasil na Inglaterra.
Mesmo sendo funcionário da república, não encarou sua tarefa como sendo de governo, mas sim de Estado, notadamente depois de 1889, não mais se candidatou a cargos no parlamento, mas agiu somente na diplomacia, tarefa genuinamente de Estado, de serviço à nação, apartidária e essencialmente patriótica. Segundo o livro Joaquim Nabuco - Diários 1873-1910, da Bem te vi Produções Literárias, Rio de Janeiro - 2006, em 1900, estando Nabuco em Paris, encontrou-se com a exilada Princesa Dona Isabel, num Congresso anti-escravagista. Em 1903 repete o feito de 1900, enviando a 13 de maio, flores à Princesa Redentora, ao que ela agradece com um telegrama.
Enfim, em 1900, lança Minha formação, com suas memórias e em 1903, em O direito do Brasil, defendeu através das letras a posição brasileira na controversa situação Brasil - Guiana Inglesa - Inglaterra.
Em 1905, dada a criação da Embaixada do Brasil na capital norte-americana, Joaquim Nabuco é destacado para servir como embaixador do Brasil, sendo recebido por Teodoro Roosevelt. Muito prestigiado, Nabuco palestrou nas mais diversas instituições de ensino dos Estados Unidos, chegando em 1906, a organizar a III Conferência Pan-americana, no Rio de Janeiro.
Joaquim Aurélio Barreto Nabuco de Araújo faleceu aos 17 dias do mês de janeiro de 1910, na condição de embaixador em seu posto de Washington.
Sua descendência não envergonha sua ascendência ilustre, vindo seu trineto, Bernardo de Almeida Braga Rato, a casar-se com uma descendente do fundador do Império do Brasil, sendo ela Dona Maria Francisca de Orleans e Bragança, filha de Dom Eudes e Dona Mercedes, por conseqüência neta de Dom Pedro Henrique, Chefe da Casa Imperial do Brasil, de 1921 a 1981, este, neto da Princesa Dona Isabel e bisneto do Imperador Dom Pedro II. Bernardo de Almeida Braga Rato é descendente de Joaquim Nabuco por sua mãe, Maria do Carmo Nabuco de Almeida Braga, esta, filha de Sylvia Maria da Glória de Mello Franco Nabuco, sendo por sua vez, filha de José Tomás Nabuco de Araújo, e este, filho de Joaquim Nabuco.
Joaquim Nabuco: jurista, político, diplomata, jornalista, escritor. Monarquista. 2010, ano do Centenário de sua morte, saudamos e reverenciamos este grande homem público, este monarquista incompreendido, este homem que desafiou suas origens, saudamos este Joaquim Nabuco, abolicionista. Este que não é apenas Imortal pela Academia Brasileira de Letras, mas Imortal por seus feitos, suas ações, suas obras e suas lições. Saudamos Joaquim Nabuco.
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