Em Portugal, o Príncipe Dom Gabriel de Orleans e Bragança concede entrevista a rádio Renascença
Em Portugal para participar das celebrações em homenagem aos 200 anos do falecimento da Rainha Dona Maria I, o Príncipe Dom Gabriel de Orleans e Bragança concedeu entrevista a rádio "Renascença", acompanhe a transcrição:
“O que está a acontecer é bom para o Brasil”,
diz príncipe da Casa Imperial
Por Renascença, Portugal, 21 Mar, 2016 -
19:22 • Filipe d'Avillez
Em: http://rr.sapo.pt/noticia/49882/o_que_esta_a_acontecer_e_bom_para_o_brasil_diz_principe_da_casa_imperial
"O país está a tomar conhecimento de
situações que antes não eram esclarecidas", diz D. Gabriel de Orléans e
Bragança, descendente directo de D. Pedro II, imperador do Brasil. Espera que a
"Lava Jato" possa levar a mudanças de fundo na política brasileira.
Dom Gabriel de Orleans e Bragança
Foto: Teresa Abecasis/RR
Em Portugal para participar numa sessão de
homenagem a D. Maria I, que morreu no Brasil há 200 anos, o príncipe D. Gabriel
de Orléans e Bragança, descendente directo de D. Pedro e sobrinho do actual
chefe da Casa Imperial do Brasil, falou com a Renascença sobre a actual crise
brasileira.
Esta situação que está a passar-se no Brasil
apanhou-o de surpresa?
Apanhou de surpresa de certa forma, sim, mas
não é mau para o país, pelo contrário. Imaginávamos que existissem situações
tão más como estas e graças à operação "Lava Jato", sobretudo decorrente
da iniciativa do Ministério Público Federal, que encontrou um bom juiz, Sérgio
Moro, tivemos a grata surpresa de poder esclarecer a sociedade sobre tudo o que
estava acontecer no que diz respeito à política no país e algumas empresas
públicas, como é o caso da Petrobras, que já todos suspeitávamos que estivesse
a ser vítima de administração incorrecta.
Diz-se que o Brasil está numa situação
complicada, mas acho que está a melhorar porque a sociedade tomou conhecimento
do que está a acontecer, a sociedade está a ir para as ruas, lutando contra o
que acha errado, porque agora tem meios para lutar contra o que é errado, tem
conhecimento do que está a acontecer. Por isso é salutar e espero que em pouco
tempo consigamos fazer uma boa limpeza na situação actual, para que o país
volte a crescer efectivamente.
Uma boa limpeza implica retirar os
governantes actuais, mas existem alternativas?
O congresso já está a debater a possibilidade
de retirar poderes ao Executivo e distribuir mais pelo Congresso Nacional.
Seria uma forma de parlamentarismo.
Sou obrigado a dizer que o parlamentarismo só
acontece de forma competente com uma monarquia. Acredito que há possibilidade
de uma mudança do sistema, não sei se acontecerá em pouco tempo, mas tudo isto
serve para que todos possamos reflectir um pouco mais sobre um sistema que não
está a resultar, sem dúvida.
Estas manifestações têm dedo político ou são
verdadeiramente populares?
Acredito que o movimento é popular. Tem sido
uma iniciativa popular por parte dos brasileiros cansados de serem enganados
pelo actual sistema e pelo actual Governo que não tem levado em consideração o
bem maior para o país e acabam por ir para as ruas manifestar-se. É louvável
que tenha acontecido.
Devo deixar claro que as manifestações, na
grande maioria das vezes, têm sido pacíficas, apenas para expressar a opinião
do brasileiro hoje. E é assim que têm de continuar.
As pessoas podem estar a pensar que só
defende a monarquia por interesse. Qual é a sua posição dentro da família
imperial?
O herdeiro do trono é o meu tio Luiz e
respeito-o muito. Toda a família, irmãos e sobrinhos vêem-no como alicerce. Ele
é a pessoa certa para poder conduzir o país na forma de uma monarquia,
sobretudo parlamentarista. Eu não tenho interesse nem legitimidade para
reclamar qualquer direito hereditário ou a possibilidade de vir a ser Rei ou
Imperador. Digo isto por ideologia e por acreditar nas pessoas que conheço, que
são meus parentes, tios e primos. Este é o melhor caminho.
Tem havido mais interesse na causa monárquica
no Brasil por causa desta crise?
Tudo o que está a acontecer ajuda-nos a
reflectir e a levar a um maior esclarecimento para todos os brasileiros sobre
qual seria o sistema melhor: se uma República, que infelizmente tem uma
democracia enganosa, representada pelas pessoas presentes no Planalto hoje,
isto é, aquelas pessoas que acabam por se colocar à mercê de certas condições para
chegar ao poder; ou se seria melhor contar com pessoas que foram educadas desde
o princípio para poder conduzir a nação a uma situação melhor, obviamente
levando em consideração também o Parlamento.
Desafio qualquer um que possa dizer o que
quer que D. Pedro II tenha feito de prejudicial ao país. D. Pedro II esteve 48
anos no poder, foi um exemplo de pessoa que serviu ao país, que ouvia a todos,
tinha audiências públicas.
É formado em Direito. Acredita que o sistema
judiciário brasileiro vai funcionar neste processo?
Acredito que sim. Nestas acções criminais os
maiores elementos de prova não são divulgados ao público em geral. Sabemos o
que se passa pelo que a imprensa divulga e que tem deixado todo o povo
brasileiro perplexo.
Não tenho conhecimento dos autos dos
processos para dizer se estas pessoas devem ou não ser presas. Mas há obrigação
de perseguir as provas e o que acontece neste processo porque, tratando-se de
autoridades públicas e pessoas que são responsáveis pela condução e
administração do nosso país, os factos devem ser levadas ao conhecimento do
público para que se possa reflectir sobre se as pessoas envolvidas no processo
merecem ou não merecem o voto para permanecerem à frente do nosso país.
Hoje tem-se provado que estas pessoas
envolvidas no processo não estão aptas para conduzir o país, seja no poder
executivo, seja no poder legislativo.
Se o processo sair frustrado, as
manifestações se poderão tornar violentas?
Acredito que não. Estive em algumas das
manifestações e o que vi foi uma manifestação de amor ao país, querendo o
melhor para o país. Acho que isso de forma alguma se pode transformar em algo
que seja violento, em algo que seja negativo para o nosso crescimento.
Conto, obviamente, que as autoridades também
passem a reflectir e estejam mais atentas ao que os brasileiros entendam que é
o melhor para o país e realizem as reformas que entendemos serem necessárias
hoje para que o Brasil volte a estar no caminho correcto.
Como disse no início, o que está acontecer
agora é salutar, o país está a crescer, está a tomar conhecimento de situações
que antes não eram esclarecidas. Antes desta operação havia indícios que podiam
ser levados ao conhecimento da população, mas somente agora, graças a este
trabalho muito exaustivo e perspicaz, é que temos tido conhecimento de um país
que tem sido enganado pelos seus actuais administradores.
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